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A (terrível) aventura de dormir (comigo)

julia coluna
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Meu sono nunca foi lá dos melhores. Diz minha mãe que nem bebê eu dava aquela cochiladinha marota no meio da tarde, e até o dia de hoje, pode saber: se durmo de dia, ou estou doente, ou num nível alarmante de exaustão – salvo exceções raras. A vantagem é que sempre precisei de pouco sono para me sentir descansada.
Quando era criança, lembro-me que não gostava de dormir, com medo do que poderia estar “perdendo” (alô, ansiedade, corre aqui!). Ainda hoje carrego um pouco disso na tentativa caetanesca de tentar guardar o mundo em meu coração vagabundo. Mas macaca velha que agora sou, valorizo muito as minhas horas de cabeça no travesseiro. Como todas as outras leis que regem a vida, as regras do meu adormecimento foram suspensas e tiveram várias temporadas durante a infindável pandemia de Covid-19: da insônia à sonolência que se arrasta pelo dia afora.
Para bem e para mal, tenho também sonhos muito verossímeis. Não é difícil assustar o pobre Matheus quando acordo às gargalhadas por causa de um sonho. E não estou falando de acordar, ter a lembrança do que sonhei e rir: “haha, que engraçado”. É estar “rachando o bico”, em bom mineirês, no sonho, e despertar no meio de uma risaiada que se materializa. Do mesmo modo, meus pesadelos são detalhadamente aterrorizantes e me fazem abrir os olhos aos gritos, ofegante, tomada pelo pavor, medrosíssima que sou, até que entenda o que aconteceu. Dividir a cama comigo é enfrentar o inesperado toda noite.
Estou gritando, agora mesmo, presa numa realidade louca: um mau agouro no comando do país brada “vachina!” “vachina!”, e é seguido por uma boiada, que não sabe para onde vai, mas acompanha obedientemente. “Toda e qualquer vacina está descartada.” Dinheiro é algo que se esconde em orifícios corporais. Morre gente aos milhares, todo dia, no mUndo todo. O estuprador sente-se vítima porque “infelizmente existe o movimento feminista”. Não se pode mais abraçar as pessoas. Eu grito, grito, grito, e nada. Os piores pesadelos são aqueles dos quais a gente não consegue acordar.

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