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Desculpa, Led Zeppelin

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Como sou clichê, a primeira música do Led Zeppelin que ouvi e amei foi “Stairway to Heaven”, quando eu devia ter uns 10 anos, aplicada por meu pai – como boa parte do meu gosto musical. Até hoje não sei o que foi decisivo para o encantamento. Pode ter sido a introdução que começa com uma guitarrinha tímida e vai crescendo, extravasando para outros instrumentos. Pode ser a emoção característica que só as grandes bandas proporcionam. Mas, conhecendo a mim mesma como conheço, acho que boa parte do fascínio vem do primeiro verso: “There’s a lady who’s sure all that glitters is gold/ Há uma senhora que está certa de que tudo que reluz é ouro.”

Não fosse sábia, a sabedoria popular não carregaria tal nome, e ela prega exatamente o oposto da véia da música, dizendo que “nem tudo que reluz é ouro”, para alertar a gente sobre pessoas e coisas que não são tão bons quanto possam parecer à primeira vista. E convenhamos: pouca coisa decepciona, irrita e envergonha mais nessa vida do que a constatação de estar fazendo papel de trouxa por ter tido boa fé nas pessoas. Desculpa, Led Zeppelin.

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É aquele dia em que você se dá conta daquele amigo que só te procura quando precisa de “um favorzinho”, mas nunca ligou para uma cervejinha descompromissada. Ou quando decide ser simpático e cumprimentar um semiconhecido meio mala na rua, ficando imediatamente com cara de tacho e o braço estendido para o além, frente ao aceno não respondido – vulgo “vácuo”. Também pode ser uma daquelas vezes em que você resolve ajudar alguém de coração aberto, e o fidazunha aproveita para passar-lhe a perna. Que me desculpe a dona do Led Zeppelin, mas eu, que já dei a volta ao mundo com meu rolo de papel de trouxa, sei que, de fato, reluzir não é premissa para ser ouro.

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Felizmente, nem só de falsos brilhantes (não teve uma novela com esse nome?) se faz o mundo, existe uma luminosidade que alimenta qualquer pessoa. No fim das contas, somos todos movidos pelo brilho nos olhos, o dos nossos e o que vemos refletido nos dos outros ( e com o preço da gasolina, é reconfortante saber que há combistível tão barato e que nos leve tão longe). Dinheiro é bom? Fundamental, adoro. Reconhecimento? Também! Respeito? Sem ele, sem chance. Mas se os faróis não acendem, a viagem se torna muito penosa, e eu, particularmente, não insistiria em seguir em frente. “Sei lá, só sei que é preciso paixão”, disse um poeta de bigodes.

Na última semana, tive a oportunidade de falar para algumas dezenas de futuros jornalistas, especialmente sobre este cantinho, esta parte da profissão que tanto prezo. Como boa trouxa de carteirinha, minhas emoções transbordam em minha cara (um trouxa nunca consegue disfarçar), por isso sabia que falaria de olhos acesos. Mas vendo os pares que brilhavam de volta em minha direção, atestei mais uma vez a veracidade popular, “nem tudo que reluz é ouro.” Há coisas que valem muito mais.

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