Dia desses mesmo eu ecoei meus escritos aqui, trocando umas duas linhas com o amigo Del Guiducci sobre como é difícil escrever em tempos tão duros. Não era pra surpreender, já que, diante de tantos “indizíveis”, a reação natural seja homônima. Mas neste meu ofício de curadoria de palavras e de ser curada por elas, acabo insistindo na estranha mania de ter fé não na vida, mas no poder daquilo que se enuncia. Então cá estou, de novo, fazendo malabarismos com o Aurélio, o Michaelis, o Houaiss em busca de verbetes fugitivos.
Semana passada mesmo estava em busca de um nome específico, facílimo, desses que a gente gasta sem dó, tá sempre na ponta da língua. Mas ele fugia como aqueles pernilongos que a gente caça em vão, estapeando o ar, as próprias pernas e as alheias, e nada de pegar o bicho. Fui, como a bruxa do conto infantil, jogando umas migalhas, para ver se o termo desejado seguia a trilha de sinônimos e chegava a mim.
Cebion. Lima. Tangerina. Mexerica. Bergamota. A cor do ocaso. “Tem sabor de amizade” no arco-íris da Xuxa. Vitamina C. Comprimento de onda aproximado de 590 a 620 nanômetros. #FF7F00. Pantone 021 C ou 1505 C (tem outros até). Mandarina. Fanta. Crush (respeita minha idade). Aperol. Hi – fi. Desisto. Ligo a TV para me distrair da busca, e eis que me chega, pelo noticiário, embrulhadinha, direto de Atibaia (as voltas que a Terra plana dá), a “mardita” que persigo: “laranja”.