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Tapete vermelho

julia coluna
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Como acontece em qualquer amizade muito próxima, ou longa, ou ambas, entre as pessoas mais amadas que fui colecionando ao longo da vida, fui adquirindo outras tantas. Todo mundo vem como um combo, com suas famílias, amores, afetos e desafetos. E assim, quando essa alquimia sem explicação que é a amizade vai se estabelecendo por seus caminhos imprevisíveis, passamos a conviver com uma pequena – ou nem tanto – multidão de gente que vem na bagagem. (Sempre também carregamos a nossa).

Desse jeitinho, na espreita, na rebarba, vamos criando também uma relação por tabela com esse pessoal, ainda que não tenhamos convivência, de fato. Vibramos por suas conquistas, temos gastura nos seus perrengues, esbravejamos contra seus vacilos, e envolvemo-nos num sem fim de sentir, que no fim do dia não afeta diariamente a nossa vida, mas a de quem amamos. E o que é que pode ser mais direto que o amor?

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Devido aos muitos anos de tabela, quando entrei na Unimed em 2017 para entrevistar Hugo Borges para o caderno “Terra de Empreendedores”, eu tinha pleno conhecimento de seu apreço por superlativos, seu carisma e sua discrição. Outras coisas não eram privilégio de quem está um pouco mais perto: em todos os meus anos como repórter, sempre que se falou no homem foi em atestado da retidão de seu caráter, seu trabalho incansável em prol de uma saúde humana e cuidadosa, seu bom-pracismo antológico.

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Pois bem. Mal tinha sido anunciada na recepção da Unimed e um lance de escadas depois, fui recebida pelo próprio presidente. “Ah, mas que honra! Pessoa mais importante que já pisou nessa Unimed! Tinha que ter mandado estender um tapete vermelho!”. Rimos, fiz a entrevista, falamos da filha que me une indiretamente a ele, falamos da cidade, da vida, e do então esperadíssimo hospital, que estava perto de ser finalizado. No carro da Tribuna, saquei o celular e comecei o que viraria a recorrente piada interna do tapete vermelho: “Você não sabe o que seu pai falou!”

Todos os dias, o mundo fica um pouco pior não só pela dor imensa e diretíssima que tento inutilmente acolher – e vou seguir tentando. Mas porque algumas pessoas são mesmo unanimidade. Essas sim, dignas de um tapete vermelho em qualquer lugar a que cheguem pela vida afora – e além dela.

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