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Do andar de cima

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Sempre achei babacas estes textos que cospem regras sobre as nossas vidas e se tornam virais, quase mantras. Um dos últimos foi o do gringo que morou sei-lá-quanto-tempo por aqui e vem dizer que o problema do Brasil é o brasileiro, depois de pelo menos uns cinco terem feito a mesma coisa. Convenhamos: o “problema” do Brasil não há de ser assim tão simplório que basta um estrangeiro pousar por aqui uns tempos e pronto, descobrir o mistério. Além disso, muito me admira ver gente compartilhando isso no Facebook no horário de trabalho e dizendo, com ares de dono da verdade, que “o brasileiro não presta”. Estamos de olho! Dito isso, não vou crucificar o forasteiro, nem fazer mais uma carta aberta falando sobre como brasileiro é maravilhoso e este país é lindo, e cordial, e por aí vai. Não porque não ache isso, mas porque, novamente, nada é tão unidimensional e reducionista quanto tentam fazer a gente acreditar.

Outro texto que foi modinha é aquele nos moldes: “Apaixone-se por alguém que olhe pra você como fulano olha pra fulana, alguém que te ame por isso e aquilo…” e por aí vai. Ai, que preguiça! Tirando quando a zoeira – sempre ela – toma conta, no estilo “apaixone-se por alguém que te deseje como o DiCaprio deseja o Oscar”, acho pueril e irritante demais quererem dizer até como devemos amar. Sossegue, tribunal da internet! Para bem e para mal, as pessoas vão se apaixonar por quem elas quiserem, não vai ser uma imagem cafona de casal e palavras piegas que mudarão isso. Por isso mesmo, torcia até outro dia o nariz pra essa gente que vem com “apaixone-se por quem bla bla bla”. Mas como acontece quase toda vez em que a cuspo para cima, minha arrogância caiu na cara.

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Um amigo querido deixou esse nosso estranho planeta recentemente, certamente por ser bom demais para ele. Entre inúmeras boas memórias e o som de uma gargalhada grave, alta e inesquecível, o Fernando deixou por aqui a Cris, sua esposa incrível. Na última vez em que nos encontramos, em uma viagem de turma, acordamos os três antes de todos, e ele, trazendo o café fresquinho, dirigiu-se à mulher, falando de mim: “Cristiane do céu, essa menina de cara lavada é a cara da Baby Consuelo mesmo!”. Rimos os três, muito. Lembro-me também de ele “reclamar” de como ela era bagunceira, que largava os sapatos em qualquer canto, só para depois soltar um sorriso enorme, dizer “mentira!”, e ter mais pretexto para um afago, olhando encantado para ela, fosse mesmo bagunceira ou não, nunca saberei. Mas de lá pra cá, eu ando querendo que o amor, para mim e para todo mundo, seja esse encanto todo de quando o Fernando olha para a Cris, e ainda o faz. Só que agora do andar de cima.

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