Quando vi a primeira imagem de Anthony Garotinho esperneando ao ser levado em uma maca, eu confesso que ri. Pode ter sido o resquício de uma adolescência no estado do Rio de seu Governo. Também pode ter sido um reflexo vingativo involuntário, por ser filha de uma professora da rede pública estadual também em sua gestão – e até hoje -, e ter assistido de um triste camarote um desmonte da educação pública e a desvalorização do magistério. Pode ter sido só uma falha de caráter minha também.
O inglês tem uma expressão maravilhosa, “sleep on it”, que em seu sentido literal significa “dormir em cima de”, mas como figura de linguagem quer dizer pensar bem, “ter uma boa noite de sono”, antes de tomar uma decisão. Pois bem, foi só eu dormir nessa história do Garotinho (e não em cima dele literalmente, cruz credo) pra ver o quanto é fácil a gente ser equivocado ao ver nossos opositores (na vida, na política e nos ‘crushes’) levarem a pior, como eu fiz.
No dia em que o mundo ainda se recuperava do pontapé no estômago de ver Donald Trump se tornar presidente dos Estados Unidos, meus grupos de WhatsApp estavam em polvorosa. Um amigo disse: “vai ser o próximo presidente assassinado dos EUA”, ao que outra respondeu: “Não teremos tanta sorte assim.” Não seria exatamente uma resposta que Trump daria? Mandar bala em quem se opõe a ele? Entendo que anos de opressão despertem uma ânsia instintiva de vingança. Mas vingança não é justiça. É o homem sendo seu próprio lobo, até que, após exterminados todos, acabe só, perseguindo o próprio rabo.
Há um perigo muito grande de que todo o mal que nossos algozes nos causaram acabe por nos tornar os próprios. Eu não tenho pena do Garotinho. Não me compadeço de ele ir preso em Bangu. Mas depois de uma boa dormida e os miolos no lugar, acho que o espetáculo da humilhação de um homem sendo arrastado maca abaixo joga holofotes sobre a falta de humanidade de nossa mídia e de nós mesmos. Minha, inclusive. Mas sempre dá tempo de dormir e enxergar as coisas com mais clareza. Durmamos. Boa noite!