Recebi essa semana um release/spam que falava qualquer coisa sobre o casal que escreveu “Casamento blindado”. Já tinha ouvido o nome e sempre fiquei incomodada com a ideia de venderem amor e blindagem no mesmo pacote. Claro, um casamento “blindado” deve ser à prova das tantas balas que as dificuldades da vida disparam contra nós. Mas também lacra o casal em uma redoma sem contato com o mundo externo – fiquei sem ar só de imaginar.
Conversando sobre isso, minha amiga Flávia chamou atenção para outra noção de “amor à prova de qualquer obstáculo” que também sempre me causou urticária: a pobre “Pont des Arts”, em Paris, que chegou a a entrar em colapso devido ao peso dos cadeados com o nome de casais apaixonados afixados à sua estrutura. A Prefeitura da Cidade-Luz os retirou e instalou vidros no lugar, prezando pela segurança das pessoas e conservação de suas pontes centenárias. Eu, que nunca fui a Paris e sei absolutamente nada de engenharia, poderia ter dito antes: amor que prende e pesa sempre dá problema, cedo ou tarde.
A gente passa a vida toda ouvindo concepções muito erradas deste sentimento, que começam com expressões como “tampa da panela” e “metade da laranja”, como bem disse, indignada, outra amiga, a Dida (sim, minhas amigas são fantásticas!). É como se fôssemos naturalmente incompletos, e devêssemos passar nossos anos sobre esse planeta tão agridoce procurando quem possa nos fazer plenos, inteiros, o alguém capaz de preencher esse vazio de fábrica que carregamos. A cultura pop, nossas famílias e todos os nossos círculos sociais reforçam essa atrocidade, assegurando-nos sempre, com cara de piedade (ainda que com a melhor das intenções), em nossa solteirice: “Você ainda vai achar a pessoa certa/amada/especial/insira aqui sua variação”.
Seguindo esse raciocínio, se algo -“deuzolivre!”, “esconjuro!”, “bate na madeira!” – der errado, como ficam as coisas? A panela está fadada a ficar sem tampa? Morreremos asfixiados dentro de um carro-forte blindado? Um relacionamento definhante vai ficar eternizado em um cadeado, destruindo Paris? Teremos que nos contentar com meia laranja? As pessoas são inteiras justamente por causa de suas individualidades, e o amor só engrandece quando é libertador, e os “eus” não são anulados quando optam por se tornar um “nós”. Da mesma forma, os “eus” em carreira solo não são apenas metades vagando pelo mundo em busca de sua completude, e jamais deveriam acreditar, por um segundo que seja, na falácia deslavada de que o seriam.
Não cuspirei regras sobre os sentimentos alheios, até porque “Casamento Blindado” é uma franquia de cinco livros, tem DVDs, cursos e palestras. Quanto a mim, prefiro acreditar e buscar a ideia de amores em que as pessoas caminham juntas pelo simples fato de quererem, livres das amarras de cadeados e blindagens.