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Pronunciamento

julia coluna
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Para ser lido ao som de “Pedrada”, de Chico César; ou “Menino mimado”, de Criolo

Com ou sem editais, ainda na raça e na dificuldade -como na maioria das vezes-, serão criadas obras audiovisuais que versem sobre os abismos sociais e econômicos do Brasil e sobre grandes figuras marginalizadas da vida em sociedade diariamente, por motivos diversos. Bacuraus e democracias em vertigem. Marielles e Marighellas. Travestis e prostitutas. Mães exaustas e pais ausentes. Trabalhadoras e trabalhadores. Gente como a gente, e gente que nem a voz da gente tem. Um cinema sadio, já que ligado à negação de se calar diante dos despautérios de viver no Brasil atual e alinhado aos direitos humanos e a liberdade criativa em arte.

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Trata-se de mais um marco histórico nas artes brasileiras, com uma longa tradição de gente que se recusa a se paralisar por grilhões impostos. De relevância imensurável. E sua implementação e perpetuação ao longo dos próximos anos irá redefinir a qualidade da produção cultural em nosso país como desvinculada de qualquer vigilância ou censura. (Alguns e algumas tenderão a pagar por isso sabe-se lá com que preço, então, por outro lado, “é preciso estar atento e forte”).

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A cultura é a base da vida, do cotidiano, uma noção que transcende as noções territoriais, políticas e ideológicas limitantes que tentam imprimir à palavra “pátria”. Quando a cultura adoece, o povo adoece junto, tão indissociáveis que são. E é por isso que queremos uma cultura resistente e combativa, mas ao mesmo tempo enraizada na nobreza de nossos mitos fundantes (mas sem usar a palavra “mito”): a liberdade e a impetuosidade de ser feliz e encontrar amor em tempos tão duros. Tomar como valores únicos e absolutos a pátria, a família e a ligação com Deus limita qualquer ação na criação de políticas públicas que sejam, de fato, voltadas para uma arte edificante e sem viés de dominação. As virtudes da fé, da lealdade, do autossacrifício e da luta contra o mal, quando exaltadas como as singulares pedras fundamentais da cultura, só podem alçá-la ao território triste da arte que se produz sem qualquer vestígio de diversidade e pluralidade.

A arte brasileira da próxima década será de resistência, da dita balbúrdia, de contestação e não será limitada por limites territoriais, temáticos ou quaisquer. Será dotada de grande capacidade de escoamento da pungente dor emocional que viver neste país representa e será igualmente imperativa, um grito de “basta!”, posto que profundamente vinculada às indignações urgentes de nosso povo frente à desgraça de viver em um simulacro de democracia. Ou então não será nada. Mentira, a arte sempre é. A arte, quando livre como deve ser por essência, sempre cura e sempre rompe amarras. Ou então não será arte. Aí sim, será nada.

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