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Campos minados

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Toda cidade, em qualquer época, em qualquer canto do mundo, é um campo minado. Não, não me refiro às infelizes localidades com explosivos sob o chão em que se pisa, mas qualquer lugarejo mesmo, qualquer lugar onde as pessoas tenham vivido tempo suficiente para serem tomados por algum tipo de emoção, das piores às melhores.

A realidade nunca é o que retratam os cartões postais, não importa quão fidedignas as imagens sejam. Talvez seja por isso que aeroportos e rodoviárias estejam sempre com bombardeios de sentimentos prontos para serem lançados a qualquer minuto, ao menor gatilho de reencontro ou despedida. E deve também ser por isso que passar, pela calçada que seja, da escola onde estudamos desperte um saudosismo quase automático, talvez mais por falta da criança que fomos (ou gostaríamos de ter sido, porque nem toda infância é bonita) do que pelas horas vividas ali, contadas a cada movimento do ponteiro para a hora de ir embora, fosse por malandragem ou para fugir de bullying.

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Quando entro em qualquer cemitério, sinto minha testa franzindo imediatamente, não por medo ou por achar o lugar carregado de energia negativa, mas simplesmente porque sempre sou transportada para o último adeus que fui forçada a dar em um deles. Todo barzinho carrega em si o que ficou de encontros e desencontros vividos em suas mesas e seu entorno, temidos ou loucamente ansiados por quem os protagonizou um dia (ou muitas dezenas de dias atrás). Da mesma forma, pontos de táxi carregam em si a injusta fama de um dia de azar e espera, provavelmente uma sexta chuvosa, que deixou para sempre o legado de mau humor quando chegamos aos mais movimentados sonhando em segredo com teletransporte.

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Quando passar pela Avenida Itamar Franco sem pensar no dia em que subi a falecida Independência aos prantos por algum namorico falido, saberei que está na hora de me mudar de Juiz de Fora, que nada mais me desperta. Se der uma volta na UFJF e não sentir uma pontada agridoce de saudade, começarei a procurar novos ares e cenários para chamar de casa. Quando ouvir falar no Museu Mariano Procópio sem um incurável sentimento de “E se…”, já estarei com o pé na estrada, rumo a meu novo pouso. Mas no dia em que não estiver mais por essas bandas, se olhar para uma foto da cidade e enxergar apenas o que me mostra a imagem, sem qualquer faísca dos campos minados, saberei que estarei mentindo, e talvez faça o caminho de volta.

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