Essa semana beijei, abracei e toquei nas mãos de muito mais pessoas do que devia, levando-se em consideração que o número ideal teria sido zero, frente às orientações para conter o avanço do coronavírus. Não por rebeldia, por acreditar que a pandemia é uma “fantasia midiática”, por desafiar os limites da minha própria imunidade ou desrespeitar a saúde das outras pessoas. É pelo (agora mau) hábito de ter vivido em um mundo em estado de “não pandemia” e não conter os afetos por onde passo. Por enquanto, não mais.
Meu maior medo com o alto e veloz índice de transmissão do coronavírus é que as medidas de contenção dependem necessariamente de uma dose de solidariedade e empatia, e de algum senso de coletividade. E é por isso mesmo que embora eu tente ao máximo não ser pessimista, não consigo afastar o pensamento de que falharemos na missão. Quando a farinha for pouca e cada pessoa estiver na ânsia de “meu pirão primeiro” diante da possibilidade latente de quarentena, prevejo o caos expresso em gôndolas vazias de supermercados e gente se esmurrando pelo último frasco de álcool gel só para manter o estoque da casa, ignorando o fato essencial de que a prevenção egoísta vale absolutamente nada se o vizinho não tem a mesma chance.
No mais, sigo tentando me ater a fatos, informação que venha de especialistas e orientações embasadas em dados, sem me deixar levar pelo pânico coletivo. Além disso, prometo, a partir de agora, me manter atenta e expressar todo meu apreço na assepsia possível do metro mínimo de distância recomendado, para o bem de quem conheço e também de quem desconheço – além do meu próprio.
Mas não me canso de pensar na fina ironia, nos tempos em que vivemos, que para evitar a contaminação por um vírus com potencial letal para alguns grupos, devemos nos isolar, apesar de, para os mesmos fins, dependermos imprescindivelmente, como pessoas, umas das outras.