Para ser honesta, tenho sido bem insubordinada às ordens do Brasil, que tem sido cada vez mais incisivo ao nos obrigar a beber. Assim, entre as muitas “ressignificações” que tenho feito no “novo normal” – revirando os olhos diante das duas insuportáveis expressões -, tornei-me quase abstêmia, já que vejo pouca graça na boemia asséptica e sem fartura de gente. E embora morra de saudades, só me entrego novamente à sua deliciosa insalubridade quando minha imunidade e a das outras pessoas não for refém de um natimorto “com todos os cuidados necessários”.
Nesses dias em que o sol tem estalado nos parapeitos de quem tem sorte de vê-lo, o azul do céu parece o próprio diabo sussurrando tentações da vida aglomerada ao pé de nossos ouvidos. É nesses momentos que me bate a pulsão de boemia. E vem acompanhada de um desejo muito específico, a despeito de nossa geolocalização de polo cervejeiro artesanal. Um chope Brahma em copo resfriado, estando de gelado, bem tirado, com um dedo e meio de colarinho escapando pelas bordas.
“Acho que tomava uns mil”, disse ao Matheus, movida pela nostalgia e pelo meu costumeiro exagero retórico.
Rimos e voltamos aos afazeres. Mas logo franzi o cenho ao concluir que do chope proverbial em milhar, ficamos só com essa infindável ressaca.