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‘Uma ofegante epidemia’

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Quem teve a oportunidade de me ver paramentada pelo pré-carnaval da cidade há de se chocar: eu não gosto da festa de Momo. Explico: gosto de tudo que a folia tem: samba, bloquinho, festa, adereços e adoro fantasias, mais do que seja normal pra uma jovem senhora beirando os 30 admitir, bem mais que muita criança que mete um colarzinho havaiano e vai feliz e “à caráter” pro grito da escolinha.

O problema, vejam bem, é esse espírito de urgência que toma conta das pessoas, esse fatalismo que parece pregar que só temos até a Quarta de Cinzas para sermos felizes e aproveitarmos a vida sem preocupações.” É carnaval, pô!” Tá bem, entendo. Mas juro: tenho preguiça dessa emergência toda de passar quatro dias como se não houvesse amanhã. Há amanhã, gente! E o que você fala, faz e bebe no carnaval vai voltar pra puxar seus pés na cama, trazendo uma ressaca etílica, moral ou mesmo consequências sérias, em casos extremos de brincadeiras de mau gosto tidas como “coisa de carnaval”, como agarrar mulher a força e ferir com palavras ou atos o homossexual que está fantasiado da maneira que quiser, entre tantos outros exemplos.Também tem a inoperância das coisas, que desde sempre me irritou: nos megablocos na casa dos mil foliões, é difícil fazer xixi, o som é quase inaudível, é impossível tomar uma cerveja gelada e improvável se mover a não ser, que seja, de fato, em bloco. Enfim, é a “ofegante epidemia” dos festejos que me sufoca, Chicão que me perdoe.

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Dito isso, não serei eu a ter um piriri de regras sobre o lazer alheio, muito menos fazer apologia à caretice, pois nada disso é do meu feitio. Essa semana tive uma experiência um tanto quanto surreal que me pôs de frente com duas coisas para as quais torço o nariz, mas, vez ou outra, abraço na vida: o fitness e a carnavalização da vida. Sempre percorrendo o sonho de entrar na calça jeans própria, me inscrevi no “aulão” de zumba da academia, que teria axé, samba, marchinha e seria voltado para a folia.

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Já fazendo as contas da cervejinha e do churrasco a la Momo, decidi passar uma hora rebolando em prol de um prejuízo menor, aproveitando o fato de que adoro dançar. Cheguei cedo para malhar antes da dança dos famosos carnaval-style , e as professoras e algumas alunas foram se fantasiando, querendo tirar foto, eu pingando como de costume, tendo como único adereço minha cara de quem quer logo que aquilo acabe. Dura feito coco, posei pra alguns cliques com óculos e boás emprestados, que devem ter ficado com um tanto do meu suor (e por isso peço desculpas).

Enfim começou a aula, e entre agachamentos, pulos múltiplos e reboladinhas faceiras, ao som de “Vai no cavalinho, vai”, uma série de músicas em que tem sempre um camarada gritando “ZUMBAAAAAA!” e “há-há-há-há-há-há-há- Lepo-Lepoooooooooo”, me entreguei a uma série de passos que atendiam pela alcunha de “Catuca”, “Balança”, “Treme”, “Minhoca”, e por aí vai. Não hesitei. Catuquei, balancei, tremi, fiz a minhoca, “muntei” no cavalinho imaginário e tudo mais a que tinha direito, na primeira fila, soltando as frangas e as cadeiras. Na última música, reconheci a introdução eletrônica de “Take on me”, do A-ha, com uma bateria de não fazer feio frente ao Oludum e sambadinhas na coreografia. Não sem um tanto de estarrecimento e entre gargalhadas, foi aí que abri mão das minhas convicções sobre o imediatismo que acomete as pessoas nas festas momescas. Pensei comigo: “Se for pra ser feliz nessa uma hora, vai ser é agora”, e obedeci ao comando “se jogaaaaaaaaaaa” da professora. Acho que até cantei.

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Aguardemos a confirmação após o feriado prolongado, mas creio que para 2015 eu já possa considerar minha cota ofegante epidemia cumprida.

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