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Nenhuma ‘tiuria’

julia coluna
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Antes, de fato, eu não estivesse interessada “em nenhuma ‘tiuria'”, como versou o aqui supracitado Belchior. Na verdade, pouca diferença faz que eu, branca, hétero, cisgênero e de classe média esteja ou não inclinada ou decidida a investir em minha educação. Com os privilégios que tenho, eu sempre teria acesso à educação – não que necessariamente seria fácil, não nasci e nem me tornei rica, mas as portas não se fecham para mim simplesmente por conta dos inúmeros fatores que me constituem como pessoa e cidadã. Tem sempre uma saída, nem que seja ter dias de três turnos como os que tenho agora. Mas políticas afirmativas e subsídios como bolsas de estudo, auxílio-moradia, restaurantes universitários, políticas afirmativas como cotas e outras várias iniciativas representam a única porta de entrada e permanência de uma enorme parcela da população no ensino público, gratuito e de qualidade, sobretudo o superior.

Usar a educação e a pesquisa científica como moeda de barganha para uma reforma que mutila a classe trabalhadora impede, ironicamente, que um contingente representativo de pessoas tenha a chance de ter uma profissão, seja na própria academia ou no já esquálido mercado de trabalho, que teoricamente ofereceria um posto melhor aos que tiveram a oportunidade de ter um diploma. É morrer ou morrer. De um jeito ou outro, arrebenta-se a corda do lado mais fraco – como nunca deixou de acontecer e , principalmente agora, há cada vez menos chance de que deixe.

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No país em que se flexibiliza tanto o porte de armas que até crianças podem passar a manejá-las em aulas sob supervisão, o que esperar do futuro quando, ao mesmo tempo, a educação já foi executada à queima-roupa? Embora eu espere muito pouco na atual conjuntura, seguirei, enquanto minha posição favorecida me permitir, me interessando por todas as ‘tiurias’ que eu puder, trabalho de formiguinha, resistência por dentro, não importa o nome que isso tenha.

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Nunca pensei que a máxima “mais livros, menos armas” fosse deixar de se tornar um dito de ordem para se tornar quase uma oração, o pedido para evitar que uma tragédia aconteça, o que se diz quando se implora. Embora soe, na atual conjuntura, um tanto kamikaze ou Pollyana acreditar no conhecimento em vez dos gatilhos (reais ou feitos com as mãos), eu sigo tão afrontosamente quanto aflitamente no repetido clichê: “amar e mudar as coisas me interessa mais”.

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