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Band-Aid

julia coluna
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Perdão pelo azedume, mas esses dias de chuva seguidos em Juiz de Fora têm tirado bastante do meu escasso humor. Eu sei que é característico do nosso verão, eu sei que é preciso chover para manter as reservas de água e sei também que refresca os dias de calor. Por outro lado, tenho visto o estrago que as chuvas vêm fazendo em encostas, asfaltos e nas vidas das pessoas, das que perdem o abrigo nas enxurradas às que nunca tiveram um, nem em tempo de estiagem. No entanto, meu lamento meteorológico é muito menos nobre e engajado socialmente, e se dá por um motivo bem mais egoísta, bem “problema de gente branca”, ou, como se diz na internê, “#whitepeopleproblems”. Mas o fato é simples, direto e justo: eu não aguento mais cair na rua!

Eu não sei quem foi o colonizado fidazunha que acreditou ter sido uma ideia genial meter pedras portuguesas na maioria esmagadora de uma cidade em que chove tanto como Juiz de Fora. A superfície lisa coberta de água torna a gravidade implacável e, pelo menos uma vez por semana, “tá lá um corpo estendido no chão”. O meu, no caso. Já me perguntaram se são os sapatos que uso, se eu já tinha tomado umas e outras, se tenho problemas de equilíbrio, se me falta tônus muscular, se estava mexendo no celular na hora, tudo. Mas a verdade é que a maioria das minhas quedas se dá quando eu, pedestre convicta, desço a Ladeira Alexandre Leonel, que nem é tão íngreme assim, em plena luz do dia, indo descansar depois de um dia de trabalho. Celular na bolsa, algumas vezes com fones nos ouvidos. Em várias das vezes, usando tênis de sola de borracha.

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Nesta semana mesmo, fui presentada duas vezes com um tombo. Na primeira, escorreguei, catei cavaco e caí de bunda. Na segunda, em um trechinho um pouco mais empinado da via, deslizei, caí sentada de novo (eita glúteo resistente!), mas ralei feio um dos cotovelos. Como o local era mais movimentado, logo veio quem me socorresse, recolhesse minha bolsa, me ajudasse a levantar. Contrariando uma música horrorosa que explodiu uns tempos atrás, pensei que um joelho (neste caso, cotovelo) dói bem mais que um coração partido, sim. Segurando o braço e olhando para ver o estrago, andei mais uns metros e um total desconhecido veio na minha direção, me assustei porque estava distraída com o cotovelo sangrando.

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– Toma, moça, eu tinha na minha mochila.

Estendeu a mão e me deu um Band-Aid, sorrindo. Agradeci muito, e ele logo pulou num ônibus e seguiu o resto do seu dia. Em tempos de tanto ódio gratuito, censura descarada, apologia à violência, ataque à educação e desmonte da cultura e do acesso a ela, fiquei comovida de verdade com esse gesto de gentileza também gratuito, um favor desinteressado, uma mão estendida pela simples bondade de ajudar alguém que – literalmente – derrapou e caiu. Espero que eu possa sempre me lembrar de acreditar no bom coração das pessoas. Ainda que para certas feridas que estejam infligindo ao Brasil os últimos tempos precisem de um Band-Aid de um tamanho “imprecionante” para pararem de jorrar sangue.

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