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Indestrutível

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Dia desses, tomada pelo espírito de carnaval ou para aplacar a minha tendência indelével, comprei uma pochete. Eu mesma, que como boa representante da minha geração, via o acessório como um ícone da cafonice, o que nos separava dos tempos obscuros de ombreiras, franja “Chitãozinho e Xororó” e sombra azul – digo isso reconhecendo que, como a meia-arrastão, a cintura alta e os mules, todos podem voltar às vitrines e, consequentemente, guarda-roupas.

Apesar de me interessar por moda, tenho pouquíssimo conhecimento sobre, mas gosto de saber dos movimentos: o que se está usando, o que se voltou a usar, o que foi condenado ao limbo (ou ao inferno) e o que é a tendência da vez. Não que faça grande diferença em como vou me vestir atualmente, mas principalmente porque gosto de experimentar, ousar, e adaptar o que está por aí ao meu jeitinho.

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Outra vantagem dos ciclos fashion é encontrar na vitrine peças que estavam sumidas. Já ouvi revistas e blogs especializados anunciarem uma possível volta da cintura baixa, o que tem me feito pensar seriamente na possibilidade de estocar calças, shorts e saias com o cós elevado, porque não tenho disposição para pagar cofrinho pela vida afora. Quem mais se lembra de quando era impossível encontrar um jeans que não estrangulasse as batatas da perna (por que usar “panturrilha” se tem um nome muito melhor?)? Pois bem, assim paguei a língua mais uma vez na vida e, depois do retorno das pochetes, já saí circulando por aí toda prosa de mãos livres e ombros leves com a minha. Gostei tanto que decidi que estou nem aí se ela for conduzida coercitivamente ao status de demodê (tanto quanto a palavra em si). Foi como reencontrar uma amiga de longa data.

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De fato, eu e as pochetes nos conhecemos de outros carnavais. Minha mãe, ao me ver com a minha, primeiro estranhou, e logo depois me lembrou: “lembra como eu usava pochete quando vocês eram crianças?”. Fiz que sim e sorri. Tenho a memória clara de andar na rua com ela de pochete, sem se importar se era moda ou não (eram os anos 1990, não tenho certeza), só para poder dar uma de suas mãos a mim e outra a meu irmão, já que não havia outro par de mãos com quem pudesse dividir a nossa segurança. Lembro-me também de, pequena, olhar pra ela e vê-la gigante, carregando os filhos pelo mundo e a carteira na cintura. Indestrutível. E foi aí que percebi, como diria um verso de um enredo antigo do Parangolé Valvulado, que “guardei meu coração numa pochete”. Por isso, toda vez que usar a minha, hei de me sentir como via minha mãe: maior que o mundo.

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