Enquanto espero pela vacina, tento inutilmente ficar imune a mais uma edição do Big Brother Brasil. Acho um saco a superioridade moral e intelectual de quem desdenha do programa e se autoproclama alecrim-dourado cultural porque não o assiste. Mas tampouco tenho paciência para acompanhar a vida dos participantes, ainda mais depois de um ano de autoconfinamento – infelizmente sem piscina e patrocinadores.
Dito isso, não adiantou silenciar palavras nas redes sociais; não pesquisar o assunto ou dedicar zero do meu tempo ao reality: testei positivo para informações sobre o BBB. E até o momento, o pior sintoma é uma náusea profunda, a despeito do tempo de exposição relativamente baixo ao vírus – talvez tenha entrado em contato somente com as variantes mais agressivas.
Como sou rata véia das plataformas digitais e pesquisadora do tema desde dois mil e internet discada, lembro-me bem de quando se chamava as redes sociais de “segunda tela”. Eu mesma era assídua segundatelista do Masterchef no Twitter, acompanhando a disputa na TV e tendo igual diversão com os memes, piadas e comentários imediatos com os “pios” dos usuários.
Durante muito tempo, o BBB era o filé mignon (imagina o preço hoje) dos ecrãs secundários nas mídias sociais. De janeiro até sei lá quando é exibido, seus participantes, tretas e piadas sempre ocupavam os assuntos mais mencionados no país. Neste sentido, tudo igual. Não é à toa que não consigo me esquivar do reality.
Pode ser a pandemia e o excesso de tempo que passamos diante de telas; ou talvez tenhamos, como sociedade, ultrapassado o ponto de retorno do poço sem fundo em que continuamos a cair. Ou ainda, o Big Brother pode ser uma evidência de que a segunda tela nos fagocitou, e emulamos seu pior absoluto na vida cotidiana – com o adendo de que lá, como bem se sabe, não dá pra fugir das câmeras.
Sigo nauseada e aguardando a vacina contra a Covid. Contra a desumanidade, dependemos exclusivamente da imunidade de rebanho. E a julgar pelo BBB, parece que estamos muito longe do fim desta pandemia.