Eu jurei que não ia falar do “Anittagate” que tomou conta da internet quando 2018 batia na porta. E não vou. Também tenho algumas questões com a música, que passam a léguas de distância de bundas, biquínis de fita isolante e mulheres em pleníssimo controle de sua sexualidade. Minha pulga na orelha principal é o adjetivo-título: malandra. Entendo o sentido pretendido, da mulher que faz e acontece, é dona de si e de seu corpo, se envolve com quem quer e quando quer, tem autonomia pra “brincar com seu bumbum” como versa a letra, etc., etc…
Mas “malandragem”, talvez por vício de linguagem, sempre me remete a algo ruim, referente a alguém que quer se dar bem às custas dos outros, e que não raramente se vangloria do feito. O malandro é o pai do infame “jeitinho brasileiro”, grave desvio de caráter socialmente aceito, de quem nos abraça já calculando o movimento da rasteira. Egoísta que só, o malandro só pensa em si, e tenta conseguir o que quer valendo-se da boa fé alheia, custe o que custar.
E esse certo mau agouro que sinto pelo termo não é implicância. O Michaelis on-line traz, como algumas definições possíveis do verbete, “aquele que é dado a preguiça; indolente”; “.. (que leva a vida sem trabalho; vadio”; “que tem o hábito de furtar; gatuno”; “que age de forma irresponsável; inconsequente”; “que costuma agir com astúcia ou malícia; finório”.
Nesta semana, um papai, por ligações políticas tão limpas quanto um pau de galinheiro, fez da filha ministra do Trabalho. Antes ainda que nos mutilassem com a Reforma Trabalhista, a atual titular do cargo já havia sido condenada na Justiça por violar a legislação então vigente. Imagina agora, imagina na Copa. Se todo problema da malandragem no Brasil se resumisse à Anitta brincando com o bumbum que lhe é de direito (com ou sem celulite), o país não estaria prestes a tomar mais uma chinelada (para ser educada) no seu. E eu não pensaria, ao pensar no Ministério do Trabalho e no sentido que associo à expressão: “Sai, malandra!”