Quando a gente digita naquele buscador que controla tudo que a gente faz on-line os termos “anos 20”, aparecem referências de melindrosas, de bares de jazz, dos e das modernistas do Brasil, telas de Picasso, fotos loucas (e pinturas, óbvio) de Salvador Dalí, cortes de cabelo Chanel (que só viriam a ser chamados assim décadas depois), o fim dos espartilhos, pernocas aparecendo mais, enfim, indícios de que algo estava mudando, de que a cultura e o comportamento humano quebrariam incontáveis tabus. Besta de quem se agarra a noções de “ah, em tal época era melhor”, “antes é que era bom” e outras afirmações pueris do gênero. Só temos o agora.
Mas numa rápida “googlada”, os tais anos 1920 dão a impressão de uns pares de anos em que as pessoas podiam começar ou voltar a sonhar depois de uma breve, mas devastadora Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Não à toa, foram chamados de os “loucos anos 20”, nesse espírito de querer romper com um passado ruim, opressor, miserável, violento. Guardadas as devidas proporções, acho que é um movimento como o que a gente faz quando se livra de algo que nos faz mal demais: quer virar a vida de cabeça pra baixo, fazer algo que nunca fez, (mais) uma tatuagem, mudar o cabelo, ir a lugares que não ia. Não estou falando que não teve desgraça, miséria ou violência, mas é um tanto emblemático que tais anos loucos sejam conhecidos também como “felizes anos 20”. Pelo menos até chegar a Grande Depressão de 1929, que se abateu sobre o mundo inteiro – e que faria a de 2008, parecer uma tarde em Araruama, uma marolinha, que foi como ela então, em outros tempos, chegou ao Brasil mesmo.
Alcançamos o 20 de novo e só posso pensar que estamos começando pelo fim. Até o final de 2020, a depressão será a doença mais incapacitante do planeta inteiro. Não sou eu que estou dizendo, é a Organização Mundial de Saúde. Se isso não é a versão contemporânea de uma Grande Depressão, eu não sei o que é. Para quem se ofendeu com o trocadilho, a galera que acha que depressão é frescura ou falta de Deus/fé/força de vontade/ etc, a economia mundial também não está longe de um colapso, deveria inclusive estar correndo pro divã. Mal entra o ano e tem ataque ao Irã, papo de Terceira Guerra Mundial, goleiro condenado por assassinato (eu diria feminicídio, mas estou usando o termo da sentença) podendo vir jogar no Tupi, e as bombas chegam mesmo antes que a gente consiga sair da cama, na tela do celular. Eu não sei como a História chamará os anos 2020 como um todo. Mas “loucos anos 20” continuam fazendo sentido, embora agora pelos motivos mais lamentáveis que existem. Quanto aos “felizes”, não sou eu quem vai abrir a boca para não atrair (mais) desgraça- bate na madeira. O negócio é torcer para que as novas melindrosas, Dalís, modernistas e revoluções culturais estejam nos aguardando em algum ponto à frente.