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Nude quem?

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Dia desses acordamos e, inacreditável quanto possa ser, o assunto da internet era o Stênio Garcia pelado. Não foi uma peça, não foi na novela, era o Stênião todo orgulhoso em frente ao espelho, abraçado com o mulherão com quem é casado há sei lá quantos anos, também nua em pêlo. Como as redes não perdoam, logo pipocaram piadas e memes de todo jeito. Meu preferido foi a imagem com um uma tarja escrito “Carga pelada”, em menção ao seriado “Carga pesada” (só de escrever, dei uma risadinha de novo). Eu ri, você riu, todo mundo riu. Convenhamos: não é todo dia que a gente acorda com o Zé do Araguaia, o capeta de “Hoje é dia de Maria”, ou o Bino desnudo nas telas – para o bem de todos, é melhor mesmo que seja assim.

O problema vai muito além dos riscos (sérios) de ter o celular hackeado, perdido ou, como foi o caso do ator, mandar os bichinhos pro conserto e acordar nu aos olhos do mundo todo. O Stênio ficou tranquilo, disse que já tinha tirado a roupa no teatro no cinema e que estava com a esposa, portanto não se incomodou tanto com o vazamento das imagens. Mas todas as matérias destacaram que Marilene, a esposa, falou à imprensa “chorando muito”, que “não sabia como encarar as pessoas” e que “não queria mais sair de casa”. Notaram a diferença?

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Explico: o máximo que o Stênio vai ouvir é algumas obscenidades sobre o que carrega entre as pernas. Talvez ouvisse mais crueldades se fosse um idoso sem o selo Global. Ainda assim, no fim do dia, ele seria o velho que vai pra cama com aquela mulher de corpo escultural, absolvição imediata pelo risível critério “tô comendo.” Mas de Marilene, certamente se dirá que “não se dá o respeito”,”Bem feito! Quem manda fazer putaria?” , fora inúmeros sinônimos para prostituta. Neste mundo em que o corpo da mulher é tão objetificado e tão proibido a si, mas atacado e violado por todos, ter o o azar de fotos de sua intimidade publicadas para o mundo inteiro é, ironicamente, um crime dela. Desfrutar de uma vida sexual saudável e ativa também. Amar o próprio corpo, seja ele como for, adivinhem? Também. Não pode ter pêlo, mas não pode tirar tudo. Não pode ser gorda, mas tem que ter onde pegar. Não pode mostrar, mas também não pode cobrir tudo.

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Na era dos nudes enviados por mensagens instantâneas, muitas novas perguntas e respostas surgiram, mas a questão secular segue com a mesma réplica. O preconceito e os ataques recaem sobre o “nude” quem? Da mulher. Sempre. E é essa a verdadeira cilada, Bino.

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