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Disquete

julia pessoa coluna 1
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Essa semana conversei com uma amiga daquelas que seria um papel de Oscar no filme da minha vida – ou talvez algum prêmio mais bacana – , a Rafa. Ficamos nos lembrando de quando ela veio fazer ensino médio em Juiz de Fora. Na época, em que nossos problemas na vida eram zero, foi um drama intenso nossa “despedida”. Então eu e uma outra amiga gravamos uma fita, um vídeo sem edição, sem nada, de nós em todas as parte possíveis da nossa Três Rios. Numa delas, sei que a gente falava coisas enquanto tocava, num radinho, “Goodbye”, das Spice Girls – mais virada do milênio, impossível. Não sabemos que fim levou esse primor do audiovisual.
Esses dias também trombei com uma caixinha em que guardo cartas pra mim mesma; outras que nunca chegaram a seus destinos; escritos de todo tipo; flyers de festas; fotos e objetos diversos de quando eu tinha uns 16 anos. Um relicário. Lá, um disquete, onde persiste uma escrita a lápis, “para Naila”. Era minha parceira de crime, companheira de aventuras e desventuras, que sabia de absolutamente tudo que se passava na minha vida, meu coração e minha cabecinha adolescente. O que poderia estar naquele disquete? Jamais saberei. Nem a própria Naila – óbvio, eu perguntei, e conjecturamos várias possibilidades.
Fiquei pensando no que acontece com a carga imaterial que a gente depositava em tantas mídias que hoje não se usa mais. Para onde vai o amor juvenil que a gente transbordava em cartinhas que nunca foram entregues? No que se transforma o senso de orgulho e realização que adquiríamos depois de finalmente gravarmos aquela música da rádio, torcendo para que o locutor não falasse ou cantasse no final, estragando tudo? Que destino tem o leve senso de transgressão nascido nos muitos CDs e DVDs “queimados”, no audacioso e corriqueiro exercício da pirataria soft?
Sei lá, talvez na onda vintage que deu um respiro cool para os vinis a gente consiga recuperar, pelo menos em parte, um pouco do que sentíamos quando decidíamos “eternizar” alguma coisa nessas mídias, inocentes demais pra saber que a eternidade tecnológica seria tão curta. Talvez a gente ache alguma versão nova na nuvem, num streaming ou para baixar, tentando prolongar o que nossos eus do passado viveram. Ou talvez a gente passe a vida procurando, sem sucesso.

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