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Vai ter golpe!

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Nunca fui das pessoas mais doces, e tenho lampejos bem frequentes de rabugice. Por isso, sempre achei um tanto piegas a enxurrada de “mais amor, por favor” nas redes sociais. Por outro lado, creio que só se combate fogo com fogo, e a única forma de combater a erupção de ódio que vem nos queimando as almas é com amor mesmo. Não o amor dos filmes e novelas, idealizado, perfeito e cheio de drama; não o amor de imagens de gatinhos fofos e bebês em mensagens de bom dia em correntes de WhatsApp; mas o amor que não pede licença, que invade mesmo como uma bala, exterminando o que restar de ódio e nos transformando em pessoas melhores para conosco e os outros.

Na semana que se passou, uma manifestação estudantil inteiramente pacífica teve como resposta o uso de spray de pimenta em adolescentes armados somente com cartazes e faixas, chegando a atingir seriamente o amigo Leonardo Costa, repórter fotográfico, que estava no local a trabalho. Também nesta semana, dois veículos, do nada, dispararam tiros contra si, eram nem dez da manhã, e atingiram inocentes que praticavam o ilícito ato de esperar o ônibus em um ponto do Teixeiras. Isso sem mencionar, diante do delicado momento político em que vivemos, as atrocidades cometidas contra os direitos humanos, a democracia e mesmo qualquer sinal de solidariedade em relação a quem divide o mundo conosco. Crianças papagaiando discursos em prol da morte de políticos que nem sequer conhecem; apologias a um “governo” opressor, violento e censurador; ataques físicos a pessoas que têm opiniões divergentes. Pior: tudo isso, não raramente, justificado sob a “confiabilíssima” chancela “li na internet” (insira aqui qualquer meio duvidoso que desejar), sem a menor preocupação com a legitimidade da informação.

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Nesses dias ouvi Leonardo Boff dizer, aqui em solo juiz-forano, que “o ódio é a vingança dos covardes” e acrescentaria, em termos mais chulos, que é um tiro que sai pela culatra. Essa “coisinha louca chamada amor”, como diria Freddie Mercury, é mesmo revolucionária – como diria, por sua vez, o muro pichado do Monte Sinai (ou será que ele diz afeto? Tanto faz.). E é só com ele, por ele, ou com ambos, que poderemos sair dos fossos em que entramos; seja como país, como pessoas ou como sociedade, sabedoria útil neste tempo em que tantos covardes vêm se vingando diariamente, sem sequer saberem de quem.

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Discordo, entretanto, de Ghandi, pregador absoluto da resistência pacífica. Vai ter golpe sim! Uma porrada brusca de realidade, para que seja possível ver que alimentar o ódio, dizimar direitos e legitimar as desigualdades é o maior dos tiros no pé. Um golpe de recusa à aceitação da violência em silêncio; mas que a desarma na ofensiva, com disparos de afeto, tolerância e respeito. Independentemente de que lado estejamos no atual e lamentável Fla-Flu político nacional, já vejo surgirem os primeiros motins de uma urgente e tão necessária revolução de amor, com o reforço de sua equipada tropa de choque de clichês. Mal posso esperar para que ela exploda de vez.¡Viva la revolución!

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