No próximo domingo em que a coluna for publicada, terei me tornado trintona, virado balzaquiana, passado pelo retorno de Saturno. O fenômeno terá se passado na data de nascimento que Caetano Veloso tem o prazer de dividir comigo, 7 de agosto. Não, não me sinto com 30 anos. Ao longo da história, a cultura popular e as piadas de tiozão atribuíram um peso injusto à cruzada deste marco: é quando “não se pode mais arriscar”; e já se deve ser o que esperaram que sejamos; e o relógio biológico “começa a apitar”, pedindo um filho; é quando se “está encalhado (a)” quando o estado civil é solteiro (a). É isso que dizem as más línguas.
Por essas e outras, não me sinto aos 30. Porque o discurso que ecoa mais é esse, que instala um deadline em nossas vidas, apontando o dedo em nossas fuças para tudo que nós, “com 30 anos nas costas”, ainda não fizemos ou conquistamos. Podem tentar me ludibriar o quanto quiserem, mas agora que avisto a linha de chegada da terceira década de existência vejo tudo com absoluta clareza: é com a proximidade dos 30 que passamos a ser cada vez nós mesmos, porque nos desfazemos de tudo que é desnecessário e encobre o que gostaríamos de ser. Fora as obrigações – e justamente por isso -, fica só o que realmente importa. Raros exemplares atingem essa libertação antes disso.
Aos 20, eu não usava batom escuro porque sou beiçuda, e evitava animal print porque podia “parecer perua”. Fazia muita firula para gente que achava chata, e aceitei muitos convites aos quais queria dizer não. Fiz dieta maluca, beirei um distúrbio alimentar e já chorei em frente ao espelho por me achar gorda. Hoje em dia, batonzão é minha marca registrada, sou a louca da savana no vestuário, reservo meu tempo a quem quero e estou mais acima do peso do que em qualquer época, mas nunca me senti mais gata. Chego a rir dos tempos em que a opinião alheia era uma das bússolas (quebradas) que me guiavam. Hoje, sou meu próprio Norte.
Não é “feitiçaria, nem tecnologia” (e só quem está perto dos 30 entenderá essa piada). É revisão de prioridades, abandono de âncoras que nos impedem de chegar àquele destino de que a gente duvida da existência: “O que é nosso”, e passam a vida nos dizendo que “está guardado”. Aí está a diferença: com 20, a gente se indigna por não ver o menor sinal de que estamos perto de chegar à terra prometida. Aos 30, queremos mais é aproveitar o percurso. Quando somos nossos próprios timoneiros, encaramos de frente as tempestades, e, por isso mesmo, estamos mais aptos a desfrutar dos bons ventos e aproveitar a viagem. Pode vir, 30° ano. Mal posso esperar para zarpar.