Como o fluxo de abastecimento de alimentos e gasolina ficou por uns dias, e ainda deve ficar por um tempo, eu estou paralisada. Inerte, imóvel, inútil. Acuada, talvez. Eu não sou santa, não possuo escritura da verdade, e, na maior parte de tempo, erro muito mais do que acerto. Mas constatar, ao vivo, nos supermercados e nos postos de gasolina, principalmente, que o produto em maior escassez na atualidade é de fazer cair vocês-sabem-o-quê, vocês-sabem-de-onde. E de partir o coração.
No país que pode voltar ao Mapa da Fome, onde não figurava desde 2014 – não sou eu que estou dizendo é a ONU -, a classe média se sente injustiçadíssima pela falta de pão integral, alho-poró e mostarda Dijon nos supermercados gourmet. E foi só chegar gasolina que teve gente descumprindo, na gambiarra (para não dizer canalhice) o decreto de 20 litros por pessoa, pensado justamente para ampliar o acesso ao combustível. E nem me venham falar em quem pegou uma carona oportunista no movimento dos caminhoneiros (trocadilho não pretendido, desculpem) para pedir intervenção militar em pleno 2018. Perdemos total nosso senso de comunidade, de respeito ao próximo, de humanidade. Falhamos como sociedade, cegos pela lógica – literalmente, desta vez- do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Isso sem mencionar as pedradas a caminhões – e, consequentemente, caminhoneiros – que retomaram sua rota de distribuição.
Assisti a tudo isso parada, impotente e estarrecida ao mesmo tempo, como grande parte das pessoas. E já que vão dizer que a constatação que eu e tanta gente compartilhamos é um “mimimi”, “coisa de esquerdista” e que “o choro é livre”, aproveitemos, então, enquanto ele ainda o é. Longe de mim querer ser pessimista, mas algo me diz que não há de faltar motivos para o pranto.