Há muitos anos, bem antes de que ela se tornasse estrela dos “looks do dia” de blogs de moda, das fotos de paparazzi das famosas e das revistas fashionistas, eu me tornei adepta das roupas de cintura alta. Não porque eu tenha um senso fashion aguçado, ou quisesse lançar a tendência, um dia simplesmente percebi que elas têm um caimento muito melhor em meu corpo. Desde então, todas as peças de meu guarda-roupa cujo cós vai mais ao sul do que a medida de um dedo abaixo do umbigo sofreram impeachment, e se tornaram inelegíveis ao uso por toda a minha (espero que longa) vida.
Na adolescência, usei e abusei das calças Saint-Tropez, uma coisa horrorosa, aquela cintura baixíssima que todo mundo usava e eu, como toda xófem, não queria estar de fora. É justamente na juventude que a gente usa umas peças muito duvidosas, “porque estava na moda”. Na minha época, que não tinha blog de moda e nem ela própria era tão acessível e discutida como hoje, a gente usava o que aparecia na Capricho e as pessoas começavam a dizer que era bacana, não importa o quão questionável fosse. Nesta linha, vesti muito um trem que era curto demais pra ser calça e longo demais pra ser bermuda: a danada da calça Capri. Também não escapei do olho delineado de branco ou prata; daquela tiara de plástico cheia de dentes (deixava os cabelos todos arrepiados, mas a gente se achava maneira), do Peirce no umbigo (semiótica pura!) e do cabelo lisíssimo, sempre escovado no bafo quente para cada saída. E todas as minhas amigas se vestiam do mesmo jeitinho, éramos um bando de clones.
Uma das coisas mais libertadoras do passar dos anos é ver que usar alguma roupa só porque “está na moda” é uma grande bobagem. Claro, vez ou outra surge uma ou outra tendência com que nos identificamos, e é ótimo ter facilidade de encontrar, em qualquer loja, aquela peça, acessório ou algo que represente um estilo. Dá liberdade de escolha, algo que me fez muita falta durante os longos anos da ditadura da calça jeans skinny. Mas, com o tempo, a gente aprende que a maneira como nos vestimos é uma expressão de nós mesmos, então, se você se veste somente como um catálogo de tendências de uma estação, sem qualquer toquezinho seu, isto quer dizer muito mais sobre a sua (falta de) personalidade do que sobre seu radar fashion aguçadíssimo.
Outra coisa sobre a moda é que ela é cíclica. Várias coisas que a gente pensou que estavam mortas e sepultadas do nada ressurgem e se multiplicam, como Michael Jackson e seus zumbis em “Thriller”. Foi assim com as franjas (nas roupas, acessórios e cabelos), com as calças “flare” (vulgas boca-de-sino) e, até, quem diria, com a tão malquista pochete. No noticiário de política também é assim. Recentemente vimos Jair Bolsonaro usando um conjuntinho que foi hit de 1964 a 1985: “tortura” com sobreposição de “opressão” , este by Ustra, mas reproduzido por centenas. Eduardo Cunha também tem sido visto usando um clássico de Paulo Maluf (que até o slogan roubou de Adhemar de Barros): o “rouba, mas faz”, tendência que tem feito sucesso entre os consumidores da grife “Impeachment”. Já o deputado Flavinho causou frisson com o look “As mulheres querem ser amadas e cuidadas, não empoderadas”, sucesso absoluto da coleção “Bela, recatada e do lar.” Trend alert: vai dar treta.
A odiosa Saint Tropez é minha testemunha: por mais que as tendências vão e voltem, tem coisas que eu jamais quero ver de novo, não importa o quanto estejam usando novamente. Na moda e na política.