Em meio a tantas dissoluções, é possível, ao menos, indicar a inauguração de novos padrões de popularidade no Governo Jair Bolsonaro (PSL). Após seis meses de mandato, Bolsonaro agrada a 33% dos brasileiros, mas contraria a outros 33%, conforme pesquisa do Instituto Datafolha, realizada entre 4 e 5 de julho. Entretanto, avesso a dados de qualquer natureza, o presidente da República prefere forjar periodicamente seus próprios testes de popularidade. As oportunas aparições do ex-deputado federal dão-se preferencialmente em jogos de Flamengo e Palmeiras.
Donos dos maiores orçamentos do futebol brasileiro, Flamengo e Palmeiras diariamente polarizam, por horas, as pautas dos debates das principais emissoras fechadas especializadas em esporte. Neste sábado (27), Bolsonaro assistiu, no Allianz Parque, em São Paulo (SP), ao empate entre Palmeiras e Vasco. Em duas oportunidades, fez questão de ir ao centro do gramado, prática incomum a chefes de Estado. Em ambas, acenou à torcida como se estivesse em cerimônia de posse. Bolsonaro se sente confortável no Palestra, pois é o Palmeiras o maior rival do Corinthians, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o maior rival político. Lula, aliás, se furtou em manter apenas relações afetivas com o clube do coração.
Já no Rio de Janeiro, o reduto eleitoral de Bolsonaro, a maioria do eleitorado é rubro-negra. Em Brasília (DF), no Estádio Mané Garrincha, poucos dias após o início da série de reportagens “Vaza Jato”, do The Intercept Brasil, o presidente acompanhou in loco, junto aos ministros Sergio Moro e Paulo Guedes, além do vice-presidente Hamilton Mourão, o embate entre CSA e Flamengo. Fora o momento oportuno para melindrar o capital político do ministro de Justiça e Segurança Pública, então mais popular que o próprio presidente.
Bolsonaro conhece muito bem o perfil da base eleitoral que o levou ao Palácio do Planalto. Embora tenha arrebatado eleitores das classes subalternas, os bolsonaristas fiéis do capitão reformado ocupam semanalmente os setores mais caros do Allianz Parque e do Maracanã, visto que, conforme a pesquisa já citada, entre pessoas com renda superior a dez salários, a aprovação do presidente é de 52%. Entre aquelas com renda de familiar de até dois salários, o índice é de, apenas, 27%. Resta o questionamento sobre os interesses das diretorias de Flamengo e Palmeiras, uma vez que, enquanto instituições, pagarão a instrumentalização a qual são submissos com as próprias histórias, construídas à margem dos valores do bolsonarismo.