Alguns tricolores até cruzaram os dedos, mas o Palmeiras retornou a campo. Se assim começou, assim poderia terminar, pensavam. O São Paulo conquistara a Copa Sul-Americana em apenas 135 minutos. Nem mais, nem menos. Não por vontade própria, é verdade. Quem se recusou a disputar os 45 minutos finais fora o Tigre. Mas quem cumpriu a pena mesmo, o São Paulo. Oito anos, cinco meses e 11 dias. A conquista mais fácil da história tricolor seria o presságio de um limbo de agonia. Era uma maldição, certamente era, rogada por um mal-amado de Victoria, ali na Província de Buenos Aires. O que mais senão uma desgraça, um esconjuro para justificar o par de humilhações no Morumbi nos últimos anos?
Mas o Palmeiras, enfim, retornou. Assim como na final da Sul-Americana, o São Paulo oferecia garantias para 180 minutos. Não houve jogador tricolor em campo no Palestra Itália ou no Morumbi que renegasse a certeza da vitória. Mesmo diante das ausências de Daniel Alves e Martín Benítez. Até quando parecia inevitável a decisão por pênaltis. Mas a ansiedade de Luan foi privilegiada. A finalização não sairia pela bandeirola de canto, como insistiu Abel Ferreira após o confronto. Mas também sequer assustaria Weverton. É que Felipe Melo retribuiu o favor dado por Luan com juros e correção monetária. Contra o mesmo Palmeiras, no mesmo Morumbi, Luan, afobado por bloquear chute de Rony, desviou a bola para a própria meta. O empate àquela altura sepultou as chances do São Paulo em conquistar o heptacampeonato.
Aliás, de Volpi a Pablo, os jogadores eram os mesmos do elenco marcado a ferro e fogo pela derrocada passiva no último Campeonato Brasileiro. A exceção, em campo, era Miranda. Se o São Paulo não cedeu um palmo de grama ao Palmeiras foi porque o zagueiro fez usucapião do Morumbi. Nenhum tricolor garantiria à vera que Miranda lideraria Arboleda, Bruno Alves e Léo Pelé. A recente passagem por Nanquim, na China, não dava indícios muito animadores. Mas Miranda lembra a qualquer desavisado dia sim, dia não que a arte da posição é defender a própria área. Agora, o zagueiro é o elo de pertencimento entre duas gerações. A do pai, embriagado de lembranças do tricampeonato do time de Muricy Ramalho. E a do filho, que não sabia qual o gosto do título, se doce ou agridoce.
Cada vitória, cada conquista é mensurada pelas próprias circunstâncias. O título paulista não será apenas o 22º, mas o do fim da fila. O São Paulo precisava ganhar independentemente das contrapartidas. O Racing de Alvellaneda implodiu o recorde ostentado pelos tricolores de nunca ter perdido para um clube argentino no Morumbi pela Libertadores da América. Ao fim e ao cabo, a opção de Hernán Crespo por poupar jogadores na competição será uma nota de rodapé mal impressa. A maldição de Victoria está quebrada. O artífice também é de Buenos Aires, mas de Vicente López Partido.