Embora presidido por Rodolfo Landim, o rubro-negro encerra o ano orgulhoso. Pudera, o bicampeonato continental, bem como o hepta nacional, veio a galope. No entanto, o Clube de Regatas do Flamengo – como qualquer agremiação popular -, enquanto instituição, confunde-se com responsabilidade social. E, nesta seara, como diria o outro, o Flamengo fracassou retumbantemente. A largada à temporada fora deflagrada, tragicamente, em 8 de fevereiro, no Ninho do Urubu, com a morte de dez jogadores das categorias de base. Se esta temporada será lembrada como a de Jorge Jesus e companhia, deverá, necessariamente, ser lembrada como a das mortes dos garotos do Ninho.
Landim, ao passo que se esquivou de temas notáveis, preocupou-se, demasiadamente, com notas ínfimas. Às vésperas de o Flamengo entrar em campo, em Doha, Catar, contra o Liverpool, por exemplo, o presidente vetou o repasse de prêmios ao elenco, superiores a R$ 150 milhões, ao discordar da distribuição acordada entre os atletas. Os jogadores distribuiriam 30% do valor total a funcionários do departamento de futebol e à comissão técnica. Como não é surpresa, a meritocracia é válida aos tecnocratas apenas quando lhes convêm.
Da mesma maneira, Landim questionara os valores pleiteados pelas famílias cujos filhos foram mortos – R$ 2 milhões por vítima, mais uma pensão de cem mil mensais até 45 anos completados – em negociação extrajudicial com a Defensoria Pública e o Ministério Público do Rio de Janeiro. Em entrevista a’O Globo, Landim, ao ser questionado sobre o tratamento dado às famílias, mostrou satisfação ao responder que paga R$ 5 mil às famílias, comparando tal valor às bolsas de R$ 800 anteriormente quitadas. Reclamou ainda de “estratégias que por vezes colocam barreiras no seu contato com a família”; depois de refutar a oferta dos órgãos públicos, o clube se sujeitou a esta condição, ora.
Não há bandeira a meio mastro ou símbolo de luto que resguarde o Flamengo de sua responsabilidade social e do tratamento mesquinho para com as famílias desde as mortes. A menos de dois meses de completar um ano do acidente, a preferência em enfrentar uma cruzada judicial é perceptível. Aos rubro-negros, no entanto, cabe entender que a atual gestão, bem como a passada, deve ser diariamente cobrada, independentemente de sucesso esportivo, pois, ao contrário do futebol, não há correção de rota ou reparação após incidentes fatais.