Em meio ao processo de concessão à iniciativa privada, o Autódromo José Carlos Pace, em São Paulo, receberá, a partir de sexta (15), o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1. Dos circuitos mais tradicionais do automobilismo, até Interlagos está envolto em uma das tantas guerras encabeçadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) em busca de preservar o seu capital político. Ainda que o contrato entre a Prefeitura de São Paulo e a F1 encerre-se ao fim de 2020, há negociações para sua extensão. No entanto, precocemente, Bolsonaro lançou, em solenidade do Dia da Vitória da Segunda Guerra Mundial, o Autódromo de Deodoro – cujo contrato de construção está suspenso -, no Rio de Janeiro (RJ), como futuro circuito da categoria no Brasil, sob a prerrogativa da ausência de quaisquer verbas públicas.
A mobilização de Bolsonaro em torno de Deodoro suscita questionamentos, pois é, no mínimo, curiosa. A ligação entre o presidente da República e o automobilismo é nula; com os esportes, na verdade. Tanto é que o Ministério do Esporte fora prontamente anexado ao da Cidadania como mera secretaria. Mas Bolsonaro deve satisfações ao Estado do Rio de Janeiro. Embora paulista, o ex-deputado tem o estado fluminense como domicílio eleitoral. E, para além da Presidente Dutra, está João Dória (PSDB), então responsável pela programa de concessão do Complexo Interlagos. A eufórica predileção de Bolsonaro por Deodoro foi uma cisão representativa na relação entre ambos. Ainda no primeiro ano de mandato, o presidente já sonha com a reeleição. E Doria, por assim dizer, também é pré-candidato.
Embora a disputa política entre Bolsonaro e Doria esteja dada, os esforços concentrados no circuito da Zona Oeste do Rio de Janeiro devem-se, sobretudo, às vontades do Exército, das únicas instituições ainda respeitadas pelo presidente, embora a hierarquia militar não tenha invadido o Palácio do Planalto. Como revelado pela Agência Sportlight, a União desembolsou mais de R$ 120 milhões ao Exército para comprar o terreno em que o autódromo pode vir a ser construído, sendo cerca de R$ 105 milhões somente para a área, além de mais de R$ 16 milhões para sua limpeza. O acordo fora firmado no Governo Dilma Rousseff (PT), em 2012, mas os repasses seguiram até novembro de 2018, no Governo Michel Temer (MDB).
Mesmo com incompletos 11 meses de Governo, Bolsonaro instrumentaliza a máquina pública como poucos. A licitação, orçada em, aproximadamente, R$ 700 milhões, é alvo de inquérito civil do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por suposto direcionamento. Além disso, o contrato com a ganhadora Motorpark está suspenso pela Justiça Federal, que exige estudo de impacto ambiental na floresta de Camboatá. A alguém, Deodoro interessa. Não é ao automobilismo. Tampouco aos fluminenses.