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O cruzado de Hebert Conceição

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A Ucrânia reaverá a Crimeia, e Oleksandr Khyzhniak ainda estará procurando por Hebert Conceição. Khyzhniak até parecia implacável nos dois primeiros assaltos. Negava a Hebert qualquer palmo da lona, lhe jogava contra as cordas, lhe impedia de sequer dar um suspiro. As investidas de Khyzhniak faziam inveja aos maiores entusiastas da automatização. Mas, mesmo assim, o ucraniano não fazia Hebert sentir o gosto de suas luvas. Na melhor das hipóteses, apenas queimava as orelhas do brasileiro.

O Comitê Olímpico Internacional terá que se certificar se Oleksandr Khyzhniak já chegou à cidade natal, Poltava (Foto: Wander Roberto/COB/Divulgação)

O boxe, no entanto, não é das modalidades mais cristãs. Não há exatamente perdão para a misericórdia. As decisões técnicas até funcionam como uma salvaguarda. Mas o julgamento dos árbitros pode ruir em apenas um segundo a partir de um nocaute. Com um mero gancho ou simplesmente um cruzado de esquerda. Fecham-se as cortinas, apagam-se as luzes e se encerra a festa. Não há margem para questionamentos. O veredito é o da lona do ringue.

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O golpe Hebert na categoria peso-médio fez inveja até a Sylvester Stallone, porque a beleza do boxe é um nocaute sorrateiro. Um golpe tão brutal quanto a angústia que o precede para quem estava apanhando e a confiança de quem batia. A resiliência, por si só, é essencial a qualquer pugilista. Mas a fatalidade de um raciocínio rápido diante de uma guarda aberta é uma catarse no ringue. O cruzado de Hebert foi um clonazepam para Khyzhniak.

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O ouro do pugilista brasileiro foi o maior arrebatador dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Pouco antes Isaquias Queiroz havia subido ao lugar mais alto do pódio com sobras sem sequer ser ameaçado. Coube a Hebert ser o fiador da apreensão de milhões durante a eternidade de dois assaltos. Até que o cruzado de Hebert deflagrou um impasse diplomático entre Brasil e Ucrânia. Khyzhniak foi e voltou antes de se estatelar como um bêbado na lona. Que alguém lhe diga que a União Soviética foi dissolvida.

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