Rodolfo D’Onofrio e Rodolfo Landim, presidentes, respectivamente, de River Plate e Flamengo, se encontrarão, nesta terça-feira (5), em Luque, Paraguai, junto a Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, Claudio Tapia, presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA) e Rogério Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para “revisar todos os aspectos da organização da final única” da Taça Libertadores da América. Embora dissimulada perante à possibilidade nos últimos dias, a Conmebol discutirá, junto aos mandatários, a possibilidade de transferir a final da competição para outra cidade que não Santiago, Chile. Pois a convulsão social nas ruas chilenas é tão simbólica quanto representativa da elitização à qual é submetido o futebol sul-americano, por cartolas meramente interessados na importação de um modelo de comercialização ferrenhamente excludente.
A exemplo de como se encerrou, as finais da Copa Libertadores – agora, final – são retomadas a modo amargo. Se o confronto derradeiro do modelo tradicional da competição foi travado em Madri, Espanha, a um Oceano Atlântico de distância de Buenos Aires, o primeiro, sob a égide do modernismo, está em vias de realocação a pouco mais de duas semanas de acontecer. Tanto num quanto noutro os torcedores de Boca Juniors, Flamengo e River Plate foram privados de quaisquer ritos ou manifestações. Pior, diga-se. Madri e Santiago são um passo adiante no processo de elitização do futebol, uma vez que a final única atende exclusivamente a interesses comerciais. À revelia das arquibancadas, os patrocinadores emergem como principais atores. Os conglomerados multinacionais têm cadeiras cativas.
Mas há uma ironia cruel, latejante. Na mesma Santiago, ao menos desde 17 de outubro, tomam as ruas esgotados os cidadãos diante do alto de custo de vida no país, bem como insatisfeitos com a prestação de serviços sociais privatizados. Está em andamento, inclusive, a organização de uma manifestação para a data da finalíssima, caso aconteça, próxima ao Estádio Nacional. Em suma, estão fartos com a desigualdade social de um país maquiado aos olhos do mercado. Os chilenos clamam por aquilo que os torcedores nunca deveriam deixar de reivindicar: exclusivamente o acesso. Desde serviços a estádios. Pois Sebastián Piñera em nada difere de Alejandro Domínguez; ambos têm o mesmo berço.