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Não se pode reclamar de coerência

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Foto: FlaTV/Reprodução

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A quatro dias de completar um ano da morte de dez garotos sob custódia do Clube de Regatas do Flamengo no Centro de Treinamento George Helal, as famílias de Arthur, Athila, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo, Samuel e Vítor Isaías ainda não sabem quem é o responsável pelo incêndio. Tampouco sabem os rubro-negros, como os demais interessados em Justiça, o que faz exatamente a agremiação, sob a presidência de Rodolfo Landim, para acompanhá-las. Na verdade, sabemos, apenas, que não há remédio para a dor de mães, pais, avós e avôs cujas crias e netos eram a única esperança para uma vida minimamente digna, e, por isso, saíram de casa sem saber como voltariam.

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A ausência de indiciamento de responsáveis pela Polícia Civil ao Ministério Público do Rio de Janeiro, bem como a falta de acordo entre o Flamengo e a maioria das famílias, são absurdos diante de uma tragédia que deveria servir como um marco legal para a relação laboratorial entre clubes e jovens. A única certeza é a perversa postura da diretoria do Flamengo, reforçada pelo pronunciamento constrangedor de Landim, do vice-presidente geral e jurídico, Rodrigo Dunshee de Abranches, e do diretor-executivo, Reinaldo Belotti, publicado, no último sábado (1º), na FlaTV. Desde 8 de fevereiro de 2019, repórteres não foram sequer convocados pela agremiação para coletiva de imprensa em busca de questionar qual é, de fato, a postura do Flamengo a respeito da maior tragédia de sua história de 124 anos.

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Embora as perguntas respondidas tenham sido requisitadas pela própria agremiação aos veículos de imprensa, a misancene de uma coletiva de imprensa é completamente distinta da de um vídeo veladamente institucional. Ao se dar o trabalho de se manifestar sem questionamento algum por míseros 28 minutos, a diretoria ao menos mostrou coerência com a postura fria adotada desde a tragédia. Landim, Abranches e Belotti sentiram-se suficientemente à vontade para reafirmar o Flamengo enquanto uma empresa, quando a responsabilidade social deveria ser uma obrigação simbólica ao clube fadado a ser o mais popular. E por razões que Landim, Abranches e Belotti mostram-se incapazes de reconhecer. Ou condenados a ignorar.

Não é suficiente à opinião pública que os dirigentes rubro-negros mostrem a cara para ressaltar não haver precedentes sobre os valores oferecidos às famílias ou, então, haver, estatisticamente, poucas chances de os garotos mortos tornarem-se financeiramente bem sucedidos ao longo de suas carreiras. O mínimo, verdade seja dita, seria um mero sinal de empatia; compaixão. Mas, aparentemente, seria cobrar demais de homens fadados à frieza dos critérios jurídicos.

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