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Meu caro amigo

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(Foto: Lucas Figueiredo/CBF/Divulgação)

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Meu caro amigo,

me perdoe, por favor, se eu não lhe faço uma visita. Mas como agora se fez a ocasião, mando notícias desta banda bendita. Aqui na terra estão jogando futebol. Não tem samba, mas muito choro e, para tanto estresse, pouco cortisol. Uns dias chove, noutros dias bate sol, mas o que eu quero lhe dizer é que a coisa aqui está feia. Tanta mutreta pra levar a situação que a gente vai levando de teimoso e de pirraça. E a gente vai tomando que, também, sem a cachaça, ninguém segura esse rojão.

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Não sei se já viu as fotos de sábado. Há muito não via o suor das ruas. Tanta gente que até escapava pelo ladrão das avenidas. Foi ao menos um fio encapado por esperança em meio a todas essas agruras. Já dizia Eduardo Galeano que a utopia está lá no horizonte para que a gente não deixe de caminhar. Mas nos aproximamos dois passos no sábado e ela se afastou outros dois ontem. Aqui na terra vão jogar mais futebol. Até soa como uma resposta às ruas. Um grito soberbo, uma birra solene, uma troça. A fantasia tem durado menos do que um maço de cigarro.

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Meu caro amigo, o país não era a primeira, nem a segunda, tampouco a quinta opção. Na Colômbia, as ruas ganharam no grito, embora muitos não possam nem sussurrar mais. Na Argentina, bom, há mais dignidade na Quinta de Olivos do que no Palácio da Alvorada. Equador e Venezuela até se ofereceram, mas o Brasil se deixou querer. Não tem pão, só circo. Por outro lado, me pergunto se haveria escolha mais coerente. A cartilha nem ganha uma reedição, novos volumes. O presidente precisa tanto da Copa América quanto Rafael Videla precisava daquela Copa do Mundo. É o epicentro do escárnio. Nem há luto para quem deseja a morte.

Até ia lhe dizer que o futebol nos está sendo roubado, mas, no fundo, sinto que nunca foi nosso. Ver, a gente até via durante a pandemia. Era a única garantia de que aqueles dias eram diferentes dos anteriores. Ou que o gosto era o único parecido com o da vitória em uma esteira de derrotas corriqueiras. Mas é muita careta para engolir a transação. A gente está engolindo cada sapo no caminho. E a gente vai se amando que, também sem um carinho, ninguém segura esse rojão.

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Um beijo para os seus.

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