Travessia dupla
O z vem do verbo zapear. A geração nomeada com a última letra do alfabeto, nascida em meados da década de 1980, não entende o planeta sem computador. Ágil, vai de uma ferramenta tecnológica a outra, variando de site e blog tanto quanto muda de opinião. Assim dizem os estudiosos e constatam pais e professores. Apesar desse perfil digital, os jovens autores de hoje também recorrem à legitimidade do papel. Na realidade, consideram as duas travessias para, de um jeito ou de outro, chegar aos olhos e ouvidos do público.
A produtora editorial Laura Assis, que acaba de criar o selo Aquela Editora, conta que resolveu ignorar as regras do mercado e encabeçar um projeto de publicação independente. Além de viabilizar o lançamento de escritores iniciantes, muitos vinculados à Faculdade de Letras da UFJF, a intenção da iniciativa é explorar outro território, distante da internet. Segundo Laura, o esquema de distribuição dos títulos, vendidos a preços populares, é sair com eles debaixo do braço. O que vale é a proximidade com os possíveis leitores. As primeiras obras – No silêncio de um show de rock, de Larissa Andrioli, e Vaca contemplativa em terreno baldio, de Anelise Freitas – foram lançadas no Rio, no final de novembro, durante o evento CEP 20.000. A estreia em Juiz de Fora acontece hoje.
Laura afirma que a proposta contou, nessa fase inicial, com a camaradagem de profissionais. Não tivemos gastos com serviços, explica. De acordo com a produtora, a ideia não é ter retorno financeiro, mas garantir a edição da novíssima literatura do país, sem custo para os autores. Mesmo que eles estejam presentes no mundo virtual, o livro físico – como acrescenta Laura – facilita a ampliação de contatos e divulgação em algumas ocasiões. Participamos sempre de saraus e festivais em outras cidades. Por isso, ter uma obra em mãos é importante.
O poeta carioca Lucas Viriato, editor do jornal literário Plástico bolha, concorda. Para ele, uma publicação física comprova a existência de um movimento real entre os escritores. Na internet, existem muitos blefes. Uma pessoa só pode fazer uma revolução. O Plástico bolha surgiu impresso, em 2005, no curso de Letras da PUC-Rio. Segundo Lucas, a empreitada pretende fazer circular a escrita de desconhecidos, que enfrentam as dificuldades impostas pelas grandes editoras. Aos poucos, a ideia foi crescendo e ganhando adeptos – fazedores e leitores – em outras faculdades, cidades e estados, como Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Distrito Federal, Rondônia, Bahia, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com 16 páginas e gratuito, o jornal tem tiragem de 13 mil exemplares e, após a 24ª edição, ganhou site e blog. Agora, as vertentes impressa e digital caminham juntas, conta Lucas, destacando também a presença no Facebook e no Twitter.
Em contato constante com artistas de fora, a equipe do Plástico bolha já esteve no Festival Literário de Cataguases (Felica), no Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, na Semana de Letras da UFJF e no projeto local Eco – performances poéticas, comandado, entre outros, por Laura Assis. De acordo com ela, a troca de experiências não fica só na rede. Nós fomos ao ‘CEP 20.000’, que conta com a participação do Plástico bolha, e o Lucas sempre vem ao ‘Eco’, comenta.
Outro exemplo de publicação independente é a revista literária Um conto, que está na terceira edição. Vendido a R$ 1 e produzido pelos graduandos de Letras da UFJF Danilo Lovisi, Otávio Campos e Tassiana Frank, o pequeno folheto traz em texto um prosa, uma ilustração e algumas poesias. Nosso objetivo é sair do meio acadêmico, da internet, ter mais liberdade e estar mais perto do leitor, observa Lovisi. Na impressão de estreia, a revista vendeu cerca de 250 cópias e recebeu um convite para o Felica 2011, realizado em novembro. Conforme menciona Lucas Viriato, os projetos impressos costumam atingir um público variado e não ligado à literatura.
Os interessados em participar das iniciativas podem fazer contato pelos e-mails [email protected], [email protected] e [email protected]. Nos três casos, os textos são analisados e selecionados por um conselho editorial.
NO SILÊNCIO DE UM SHOW DE ROCK
VACA CONTEMPLATIVA EM TERRENO BALDIO
Lançamento dos livros. Hoje, às 19h
Brauhaus
(Rua Tavares Bastos 49 – São Mateus)