A Internet das Coisas

Por Wendell Guiducci

Agora estão trabalhando na Internet das Coisas, uma maneira de deixar não só a gente conectado, mas também nossos carros, as maçanetas das nossas casas, os chuveiros, nossos psiquiatras e nossas torradeiras elétricas.

Trabalham nisso na Unicamp, no MIT de Massachusetts e na China.

Talvez aqui na UFJF também. E na Coreia e na Austrália.

Chamam de Internet of Things.

Assim, quando você entrar no seu carango conectado, uma câmera _ sabe-se lá o que ela estará filmando, hein – fará o reconhecimento do seu rostinho bonito, para oferecer informações sobre seus hábitos cotidianos, e assim, por exemplo, recomendar músicas ou indicar trajetos para seu GPS.

Quer adivinhar, a partir de nossos padrões comportamentais, devidamente registrados diuturnamente, nossos próximos passos.

Pretende-nos previsíveis. Escaneáveis. Antecipáveis.

Mas como vai se comportar a Internet das Coisas naquele dia em que o pão da gente está caindo com a manteiga pra baixo?

Que nem a lasanha da mamãe nem o café preto e forte da patroa são capazes de agradar, porque queremos mesmo é fígado com jiló e um trago daquela cachaça mais rascante?

Que o cheiro das flores que o maridão mandou no serviço embrulham o estômago e preferiríamos cheirar cocô de boi?

Aqueles dias em que beijos te pesam e sorrisos te custam o olhos fuzilantes da cara?

Que até ouvir “Blackbird” dá vontade de sair chacinando canários-belga, trinca-ferros e pardais mudos?

Que nem esses anúncios que nos perseguem com tênis quando queremos cerveja, pacotes de férias quando queremos travesseiro, Jack Johnson quando queremos Sepultura.

Preverá o amargor de uma noite mal-dormida, essa Internet das Coisas?

O bode de uma ressaca moral?

De um amor recém-falido?

Será dotada a Internet das Coisas, internético leitor, de uma tecnoespátula capaz de desvirar ovos virados na cauda de uma manhã cinzenta ainda que ensolarada?

Desafiamo-la, pois, Coisinha Soberba do Futuro.

 

IoT Graphic

Wendell Guiducci

Wendell Guiducci

Wendell Guiducci é jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da UFJF, mestre e doutor em Estudos Literários pela mesma instituição. Na Tribuna, atuou como repórter de cultura e foi editor de internet, de esporte e do Caderno Dois. Natural de Ubá, hoje desempenha o papel de editor de integração da Tribuna e assina, todas as terças-feiras, a coluna de crônicas "Cronimétricas". Lecionou jornalismo, como professor substituto, na Faculdade de Comunicação da UFJF entre 2017 e 2019, e entre 2021 e 2022. É autor dos livros de minificções "Curto & osso" e "Suíte cemitério". Também é cantor da banda de rock Martiataka e organiza sua agenda rigorosamente de acordo com os horários de jogos do Flamengo. Instagram: @delguiducci

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